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sexta-feira, 21 de fevereiro de 2020

CRISTÓVÃO PEREIRA DE ABREU (1678-1755) – ‘O INVENTOR’ DO RIO GRANDE DO SUL

"Pelo sul brasileiro sediou-se o português Cristóvão Pereira de Abreu, que depois de muitas peregrinações ao longo da costa sul das terras que viriam a ser  lusitanas, ainda que bravamente disputadas com espanhóis,  entre São Vicente e Colônia do Sacramento. Isto lhe valeu a fama de “inventor” do Rio Grande do Sul" (Por Professor Paulo Timm).




Cristovão Pereira de Abreu foi um fidalgo português, de esmerada educação, requintados gostos e ágil palavra ao cair da pena, o que lhe valeu o brilho no registro de vários relatórios ao longo da vida. Nasceu em 13 de julho de 1678 em Ponte de Lima, Portugal, freguesia do Fontão, filho de João de Abreu Figueira e Leonor de Amorim Pereira. Faleceu a 22 de novembro de 1755, aos 77 anos, na Vila de Rio Grande de São Pedro, hoje cidade riograndina. Pelo sul brasileiro sediou-se, depois de muitas peregrinações ao longo da costa sul das terras que viriam a ser  lusitanas, ainda que bravamente disputadas com espanhóis,  entre São Vicente e Colônia do Sacramento. Isto lhe valeu a fama de “inventor” do Rio Grande do Sul.
Teria chegado ao Brasil aos 20 anos de idade, nos idos de 1700, trazido pelo pai, já estabelecido no Rio de Janeiro,    exerceu diversas atividades, antes de se transformar no protótipo do explorador a serviço da Coroa Portuguesa, ora como beneficiário de Cartas Comerciais, que lhe deram o monopólio do couro e do tabaco,  ora como militar, tendo operado na negociação com franceses para a desocupação da cidade do Rio de Janeiro, em guerras contra espanhóis no sul e junto as forças luso-hispânica nas Guerras Guaraníticas 1754-56.
Graças à sua experiência no eixo Colônia-Laguna, com grande relacionamento com populações indígenas,  foi  encarregado  pelo Vice Rei  de levar, como Coronel de Ordenanças,  a frota do brigadeiro José da Silva Paes para fazer o reconhecimento da barra do Rio Grande de São Pedro, onde seria construído o Forte Jesus Maria e José de Rio Grande, a partir de 1737, um dos pontos da conquista das vastidões  riograndenses. O outro ponto, que mais lhe notabilizaria,  proveio de Laguna, núcleo fundado pelo paulista Domingos de Brito Peixoto, em 1676, quem recebeu das autoridades coloniais a patente de guarda-mor, em 1721, para descer pelo litoral ao sul  com objetivo de fundar povoações que garantissem o controle da região e o registro do gado criado à solta nas vacarias pampeanas que se estendiam até o Rio da Prata e que desde 1703 eram levados para o centro do Brasil Colônia. Lá de  desenvolviam-se cidades e  comércios graças ao ciclo do ouro.  Com efeito, em 1725, João Magalhães penetra no Rio Grande com uma frota de 31 lagunistas e em 1732 esta investida resulta na concessão da primeira sesmaria a Manoel Gonçalves Ribeiro na parada das Conchas, junto ao Rio Tramandaí.
Neste ponto iniciou-se um registro de passagem de tropas e mercadorias que, mais tarde. seria transferido para Torres. Cristovam Pereira participou intensamente deste processo, tendo operado como elo de ligação entre os dois pontos (Rio Grande, por mar, Caminho das Praias e por terra, a partir de Rio Grande, Caminho da Serra, passando por  Viamão) creditando-se, inclusive, a ele, um papel pioneiro em Torres: Ele teria construído um  descanso (taipa) das tropas, nesta cidade próximo ao Rio Mampituba,por onde atravessava-se o gado,  tendo, talvez, sido um baluarte do “Potreiro”, em Torres, junto à travessia do Rio, como percebeu Ruschel e sugere Bento Barcelos no seu último livro – “Vale do Mampituba”. Um desenho atribuído a Debret, no início do século XIX, abaixo, ilustra esta passagem.
“O velho Neco,segundo o conselho dos velhos, era um homem abastado (em Torres) . Tinha 80 escravos e enormes extensões de terras no Vale do Mampituba e foi quem mandou construir uma taipa de pedras da Torres do Centro (Morro das Furnas). Em função da temporalidade este escriba não acredita nesta hipótese. (…) O mais provável ainda poderia ter sido construída pelo português Cristóvão Pereira, o primeiro que se tem notícias que passou por aqui e por muito tempo  nos tempos das tropeadas.”
Em tudo isso Cristovam Pereira de Abreu é um constante personagem. Centrado no comércio dos couros em Colônia parece ter se  deslocado para o comércio do tabaco, em 1710, bem como para o transporte de gado, muito provavelmente em decorrência da  precariedade do controle lusitano sobre Colônia, várias vezes ocupada por espanhóis. Isso forçava a saída dos portugueses para o interior do Rio Grande.  Já no ano de sua fundação, em 1680, Colônia foi arrasada , voltando, entretanto, ao controle de Portugal em 1683, para voltar  a cair em mãos espanholas entre 1704 e 1715.  Neste ano, até 1736, mercê de entendimentos entre as duas Coroas, os portugueses a reassumem,  justo quando se inicia a expansão lusitana sobre o território rio-grandense com a concessão de diversas sesmarias no litoral e nas cercanias de Viamão, onde se iniciam as primeiras estâncias , e se expande o contrabando de gado para São Paulo que traria no seu bojo o protagonismo de Cristóvão Pereira e suas passagens por Torres. Registre-se que, mesmo com a abertura, em 1843,  do Caminho da Serra, partindo de Viamão a Lages, o Caminho das Praias deve ter prosseguido com certa desenvoltura visto ter exigido o registro de passagem das tropas em Torres em 1871.