Bagunça pública
Aos cem dias de legislatura, vale um alerta.
A utilização de um canal de televisão para transmissão das sessões legislativas deve servir para levar à comunidade o trabalho que é desenvolvido pelos vereadores, mas o que se tem observado é que o povo está assistindo, em Rio Grande, a um verdadeiro festival de bagunça, onde muitos são os vereadores que sobem a tribuna (ou não) para criticar, inclusive, usando palavreado grosseiro, para com aqueles que deveriam ser vistos como colegas, dentro da razoabilidade de que, quem pertence a uma sigla diferente, deve ser visto como adversário que defende uma ideologia política e um sistema de trabalho e não como inimigo que deve ser exterminado.
Ao invés de enaltecer o parlamento rio-grandino, que é orgulho por constituir-se na mais antiga instituição legislativa do Rio Grande do Sul, muitos são os edis que jogam o conceito da Câmara para baixo, pois ainda não se deram conta de que a presença de um canal televisivo chega aos lares de milhares de famílias que assistem e que gostariam de ver e ouvir o que os vereadores estão fazendo pela comunidade e não "um ensaio teatral tragi-cômico" que jamais levará a lugar nenhum. A tribuna é lugar para que os vereadores digam seu trabalho, suas preocupações quanto aos anseios da sociedade, expliquem e justifiquem Indicações e Projetos, mas o que estão levando ao povo representa, com raras exceções, um teatro com falta de gerenciamento, onde são comuns ataques pessoais e impedimento às condições para o ordenamento das sessões, inclusive, impedindo que o próprio presidente dos trabalhos possa botar ordem na casa.
Entendemos que a atividade política, especialmente a municipal, deve servir àqueles que se elegeram para representar o povo, como oportunidade para criar melhores condições de vida comunitária, através de bons projetos, Indicações, requerimentos, ofícios e outros, para melhor orientação ao Poder Executivo, e não para disputas de vaidades ou trocas de ofensas, deixando a nítida impressão de que falta melhor preparação de alguns para a atividade legislativa e que, para chamar a atenção, gritam, xingam, impedem o colega de usar o espaço de tempo a quem tem direito.
Não podem esquecer que, com certeza, o mesmo poder que tem o canal de televisão para fazer crescer o conceito de um vereador, é o mesmo que pode derrubá-lo, se mal utilizado, pois muitos são os que ligam a televisão e ficam na expectativa de um bom programa; caso contrário, enjoados com o que lhes é mostrado, desligam o aparelho ou mudam de canal, na busca de um programa que não proporcione irritabilidade, que é sempre prejudicial à saúde.
Senhores vereadores, com certeza ninguém quer ver nas sessões da Câmara, uma escola de anjinhos - até porque debates acalorados fazem parte de qualquer parlamento -, mas tem que existir consciência de que tudo aquilo que é dito durante uma sessão deve ser dito com respeito ao colega e, principalmente, ao eleitor que, em última análise, é aquele que o manterá na tribuna ou o derrubará nas eleições seguintes.
Hoje, por acaso, quando os vereadores comemoraram cem dias de mandato, a sessão do Legislativo estava calminha, calminha.
Fonte: Jornal Agora Por Moacir Rodrigues
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